Anda um homem a estudar
Para um dia ser doutor
Anda a aprender a aviar
Aspirinas contra a dor
Quando um dia for formado
Sofre mais que toda a gente
De tão bem alimentado
Morre à custa do doente
Sobe o bife e o faisão
Mais a couve de bruxelas
O espinafre e o melão
O presunto as beringelas
A lagosta e o salmão
Quando a gente está doente é que são elas!
Anda um estudante a marrar
Para ser homem de leis
E depois ver condenar
Quem não tiver cinco reis
Quando um dia vem a conta
Dos preparos do notário
Quem já tem a sua conta
Paga a conta do otário
Sobe a amante e a gasolina
Mais o preço da gravata
O colégio da menina
A alimentação da gata
o cachucho da Grãfina
— E por isso a prisão não sai barata?
Anda um homem a poupar
Só para ganhar dinheiro
E depois quando engordar
Ter um lugar de banqueiro
Quando chegar o cansaço
De tudo quanto comeu
Vomita apenas bagaço
Do champanhe que bebeu
Sobe a tensão arterial
Sobe o nível da albumina
Sobe a neura figadal
Doença de gente fina
Sobe a cirrose fatal
— E o dinheiro é remédio que domina
Anda um homem a alombar
Durante uma vida inteira
Para depois carregar
Com o peso da canseira
Anda um homem a pagar
Todas as custas da sorte
Para depois só ganhar
O preço que tem a morte
Sobem lágrimas aos olhos
Sobem soluços ao peito
E aos cabelos piolhos
E percevejos ao leito
— Mas também há vida aos molhos
Para quem quiser subir está tudo feito.