[Verso 1] 1999 Trabalhador chegando em casa na madrugada Favela tá silenciosa, esposa acordada, preocupada (o clima é tenso) Ele vai caminhando pelos cantos Tá na atividade e rezando para os santos Pedindo proteção na rua escura Apertando o pa**o quando vê a viatura (vindo devagar) Toda apagada Não tem ninguém na rua e a pista tá salgada Teve operação e todo mundo entrou mais cedo A bala comeu e geral ficou com medo O trabalhador com sua bolsa na mão Escalada com o plantão que esculacha negão Naquela noite fria, vazia naquela esquina Um PM já avisa que é dura de rotina Os outros já desceram revistando Um faz um pente fino e outro vai perguntando Já foram na fome, abordaram na sede E o trabalhador sem falar nada, só de cara pra parede Várias pergunta juntas confundindo Um tente perde a paciência e vai agredindo Soco na barriga, porrada na parte certa Chute no calcanhar pra manter a perna aberta Perfil criminológico Aterrorizando na pancada e no psicológico O conteúdo da bolsa espalhado na calçada Um chute na canela à cada gaguejada Tentando convencer que está sendo confundido Os "policia" tem certeza que prenderam um bandido Certeza que deixa a abordagem violenta Mesmo sem dever nada a pressão aumenta Algemado, jogado no camburão Avisaram que era só para averiguação Sem identificação na farda da PM Inevitavelmente na madruga a perna treme A viatura vai embora da favela Leva um inocente, sem flagrante, dentro dela Sessão de tortura como na ditadura E aquele cidadão sumiu depois daquela dura (Testemunha ocular) (Testemunha ocular) [Verso 2] 2002 Moleque de cabeça fraca Entra em depressão por que não tem pano de marca Não tem ódio no coração Mas tem ambição Decidiu que agora vai roubar Vai cair pra pista pra tentar se levantar Filho de família honrada, criado na decência Entregando sua alma para a violência Diz que agora vai meter o cano (Pensamento insano) Embalo de modinha pra vestir uns pano Sem muita noção do perigo Com revólver 38 de um amigo Sai da comunidade, ganha o asfalto Procurando a vitima do seu primeiro a**alto Centro da cidade, local movimentado O garoto tenta disfarçar, mas ta a**ustado Tenta imprimir um instinto a**a**ino Por traz daquele olhar tem a alma de um menino Pela vaidade guiada pelo consumo Armado, mal intencionado, chapadão de fumo (Que vai tentar a boa) O canhão tá na mão (Enquadra o coroa) Com o dinheiro da pensão O moleque enquadrou, mas também foi enquadrado Policia pra todo lado já tava monitorado Bate o desespero o coração acelera O circo está montado a multidão se aglomera A vitima parada na mira do iniciante Esperando que o pior aconteça a qualquer instante O menor fala que quer se entregar (perdeu) Atirador de elite vai pegar (fudeu) Um estampido, o sangue pelo ouvido Um tiro na cabeça e já caiu todo fudido Os miolos voaram com o impacto O coroa se levanta e sai intacto A policia se aproxima lentamente Do corpo estendido sem vida no asfalto quente De olho aberto, menor de idade Escravo do consumo levou fumo da realidade No laudo da pericia o segredo Ladrão era primário e arma de brinquedo (Testemunha ocular) (Testemunha ocular) [Verso 3] 2010 Safadão, covarde Sabe que o pai vai trabalhar e volta tarde Deixa a filhinha aos cuidado da vizinha Que tem um marido muito mal intencionado De olho na criança que moro na casa ao lado (Pedófilo, safado) inconsequente Esperou pra atacar quando tinha pouca gente Ele bateu na porta, a criança atendeu Pediu pra entrar, ela não entendeu O safado entrou, bateu a porta e trancou A menina tava parada, parada ela ficou Estática, perdeu a fala Vendo o estuprador caminhar em sua direção na sala Sem ter reação, apenas disse não Ele tapava a boca dela utilizando a mão Ameaçando de morte se ela tenta**e gritar Ia ser muito pior e ninguém ia escutar O choro de um anjo na mão daquele porco Que tentava esfregar, encosta-la no próprio corpo Aquela menininha inocente A um pa**o de ser abusada pelo pilantra indecente Simulando arma na cintura Parou quando escutou um barulho na fechadura É o pai, voltando do trabalho Tá muito bolado por que foi dispensado Trabalha de vigia não gosta de putaria Já meteu a mão no ferro quando ouviu a gritaria E o verme a**ustado de olho na porta Avisando que se entra**e ela seria morta O pai invadiu a casa muito enfurecido A criança fugiu do colo daquele pervertido Sentado no sofá com a calça arriada Cara de arrependido dizendo que não fez nada Dizendo que é doente O pai com cara de nojo, pistola destravada mirando bem de frente Arrebenta ele na bala Com os córneos cheio de tiros, de cueca, ensanguentado no sofá da sala Pistola e controle na mão O pai abraça a filha esperando a policia vendo televisão