Já o tempo Se habitua A estar alerta Não há luz Que não resista À noite cega Já a rosa Perde o cheiro E a cor vermelha Cai a flor Da laranjeira À cova incerta Àgua mole Àgua bendita Fresca serra Lava a língua Lava a lama Lava a guerra Já o tempo Se acostuma À cova funda Já tem cama E sepultura Toda a terra Nem o voo Do milhano Ao vento leste Nem a rota Da gaivota Ao vento norte Nem toda A força do pano Todo o ano Quebra a proa Do mais forte Nem a morte Já o mundo Se não lembra De cantigas Tanta areia Suja tanta Erva daninha A nenhuma Porta aberta Chega a lua Cai a flor Da laranjeira À cova incerta Nem o voo Do milhano Ao vento leste Nem a rota da gaivota ao vento norte Nem toda a força do pano todo o ano Quebra a proa do mais forte nem a morte Entre as vilas E as muralhas Da moirama Sobre a espiga E sobre a palha Que derrama Sobre as ondas Sobre a praia Já o tempo Perde a fala E perde o riso Perde o amor