Filiph Neo - Navio Negreiro lyrics

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Filiph Neo - Navio Negreiro lyrics

[Refrão: Feliph Neo] Somos sonhos, somos luta Fomos mão de obra barata Somos arte, somos cultura Somos ouro e somos prata Somos índios, Somos negros Somos brancos, somos afrodescentendetes Somos raça, somos povo Somos tribo, somos gente Somos sonhos, somos luta Fomos mão de obra barata Somos arte, somos cultura [Verso 1: Slim Rimografia] Estamos em pleno mar, embarcações de ferro e aço Onde pessoas disputam palmo a palmo por um espaço Nesse imenso rio negro de piche e esfalto Cristo observa tudo calado de braços abertos lá do alto Onde a lei do silêncio impede que ecoe o grito do morro Dos poetas em barracos sem forro, que clamam por socorro Homens de pele escura, sem sobrenome importante Filhos de reis e rainhas de uma terra tão distante O mar separa o Brasil da África Um rio separa as periferias das mansões de magnatas Uniformes diferenciam funcionários de patrões A cor denuncia vítimas antigas de explorações Trazidos em porões e navios negreiros Tratados como animais, vendidos a fazendeiros Vivendo em cativeiros Negociados como mercadoria Enriquecendo a cla**e nobre, hoje chamada burguesia Deixou pra trás dialetos e crença Caçados, mortos e açoitados quem tentou resistência Tratados como gado, sem direito à educação Emudeceram seus tambores, amaldiçoaram sua religião Alguns morreram de fome, de cede, de frio Corpo magro, cheio de marcas e o estômago vazio Me diz: quem são os heróis e quem são os bandidos? Quem merece honra, quem merece ser punido? Quem lutou por liberdade, na história foi esquecido Sem status, sem monumentos, só barracos foram erguidos [Refrão] [Verso 2: Slim Rimografia] Fomos tratados como nada, trazidos como bicho Oprimidos e usados, dispensados como lixo Temos muito que mudar, a história não acabou Por cada vida que por liberdade, como Cristo, se sacrificou Bisavós cuja a voz foi silenciada E por nós sua luta não pode ser abandonada O navio hoje é barca sem vela, só sirene Navegando na estrada, hoje volante, ontem lemes O porão é chiqueiro de camburão Os chicotes e açoites trocados por cacetete e oitão Senzala virou presídio, Quilombo é favela Heróis: Malcolm X, Luther King, Zumbi e Mandela Escravidão ainda existe em cada olhar triste nas esquinas Nos becos e vielas, nos sonhos em ruínas No esgoto a céu aberto, na criança desnutrida Nas mãos que pedem esmola nas ruas e avenidas Herdeiros da miséria dos escravos trazidos em navios Soldados do breu em busca do brio Filhos da pátria amada, idolatrada mãe gentil Onde tu estavas que tamanha atrocidade não viu [Outro] Negras mulheres, suspendendo às tetas Magras crianças, cujas bocas pretas Rega o sangue das mães: Outras, moças, mas nuas e espantadas No turbilhão de espectros arrastadas [Refrão] [Verso 3: Slim Rimografia] Tem um pouco de navio negreiro embaixo de cada viaduto Em cada lágrima derramada, em cada mãe que veste luto Tem um pouco de navio negreiro em cada mão que pede esmola Em cada beco e viela, em cada criança longe da escola Tem um pouco de navio negreiro na viola, no pandeiro No atabaque, no cordel, na enxada e no tempeiro Tem um pouco de navio negreiro na igreja, no terreiro No santo, no orixá, na benzedeira e no obreiro Tem um pouco de navio negreiro no crucifixo, no patuá Na mulata, no crioulo e na cumbuca de Munguzá Tem um pouco de navio negreiro na música, na poesia Na dança, nas artes e em cada panela vazia Tem um pouco de navio negreiro no futebol, no carnaval No azeite de dendê, no acarajé e no código penal Tem um pouco de navio negreiro no reflexo do espelho Dos que lutaram e morreram pra não viver de joelho Tem um pouco de navio negreiro em cada conquista, em cada vitória Na pele, na memória, na minha e na sua história Tem um pouco de navio negreiro… [Refrão]