Ellen Oléria - Carta à Mãe África lyrics

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Ellen Oléria - Carta à Mãe África lyrics

[Verso 1: GOG] É preciso ter pés firmes no chão Sentir as forças vindas dos céus, da missão Dos seios da mãe África e do coração É hora de escrever entre a razão e a emoção Mãe... Aqui crescemos sub-nutridos de amor A distância de ti, o doloroso chicote do feitor Nos tornou algo nunca imaginável, imprevisível E isso nos trouxe um desconforto horrível As trancas, as correntes, a prisão do corpo outrora Evoluíram pra prisão da mente agora Ser preto é moda, concorda? Mas só no visual Continua caso raro ascensão social Tudo igual, só que de maneira diferente A trapaça mudou de cara, segue impunemente As senzalas são as anti-salas das delegacias Corredores lotados por seus filhos e filhas Hum! Verdadeiras ilhas, grandes naufrágios A falsa abolição fez altos estragos Fez acreditarem em racismo ao contrário Num cenário de estações rumo ao calvário Heróis brancos, destruidores de quilombos Usurpadores de sonhos, seguem reinando Mesmo separado de ti pelo Atlântico Minha trilha são seus românticos cânticos Mãe... Me imagino arrancado dos teus braços Que não me viu nascer, nem meus primeiros pa**os O esboço, é o que tenho na mente do teu rosto Por aqui de ti falam muito pouco E penso... Qual foi o erro cometido? Por que fizeram com a gente isso? O plano fica claro, é o nosso sumiço O que querem os partidários, visionários disso? Eis a questão, a maioria da população Tem guetofobia anomalia sem vacinação E o pior, a triste constatação Muitos irmãos, patrocinam o vilão De várias formas, oportunistas, sem perceber Pelo alimento, fome, sede de poder E o que menos querem ser e parecer Alguém que lembre, no visual você [Refrão 2x: Ellen Oléria] A carne mais barata do mercado é a negra A carne mais marcada pelo Estado é a negra [Verso 2: GOG] Os tiros ouvidos aqui vêm de todos os lados Mas não se pode seguir aqui agachado É por instinto que levanto o sangue Banto-Nagô E em meio ao bombardeio Reconheço quem sou, e vou Mesmo ferido, ao front, ao combate E em meio a fumaça, sigo sem nenhum disfarce Pois minha face delata ao mundo o que quero Voltar para casa, viver meus dias sem terno Eterno é o tempo atual, na moral No mural vedem uma democracia racial E os pretos, os negros, afro-descendentes Pa**aram a ser obedientes, afro-convenientes Nos jornais, entrevistas nas revistas Alguns de nós, quando expõem seus pontos de vista Tentam ser pacíficos, cordiais, amorosos E eu penso como os dias têm sido dolorosos E rancorosos, maldosos muitos são Quando falamos numa miníma reparação Ações afirmativas, inclusão, cotas? O opressor ameaça recalçar as botas Nos mergulharam numa grande confusão Racismo não existe e sim uma social exclusão Mas sei fazer bem a diferenciação Sofro pela cor, pelo patrão e o padrão E a miscigenação, tema polêmico no gueto Relação do branco, do índio com preto Fator que atrasou ainda mais a auto-estima Tem cabelo liso, mas olha o nariz da menina O espelho na favela após a novela é o divã Onde o parceiro sonha em ser galã Onde a garota viaja Quer ser atriz ao em vez de meretriz Onde a lágrima corre como num chafariz Quem diz que este povo foi um dia unido E que um plano o trouxe para um lugar desconhecido Hoje amado (Ah, muito amado), são mais de quinhentos anos Criamos nossos laços, reescrevemos sonhos Mãe... Sou fruto do seu sangue, das suas entranhas O sistema me marcou, mas não me arrebanha O predador errou quando pensou que o amor estanca Amo e sou amado no exílio por uma mãe branca [Refrão 2x: Ellen Oléria]