Nasci no sertão desfrutando as virtudes Dos tempos de inverno, fartura e bonança Depois veio a seca, fugiu-me a esperança Diante de cenas cruéis e tão rudes Vi secos os rios, as fontes e açudes E eu, que gostava tanto de pescar Saí pelo mundo tristonho a vagar Fui ter numa praia de areias branquinhas E, olhando a beleza das águas marinhas Cantei meu galope na beira do mar Ali na cabana de alguns pescadores Olhando a beleza do mar e do arrebol Bonitas morenas, queimadas de sol Alegres me ouviam cantar seus amores A brisa soprava com leves rumores O pinho a gemer e depois a chorar Aquelas morenas, à luz do luar Me davam a impressão que fossem sereias Risonhas, sentadas nas alvas areias Ouvindo meus versos na beira do mar Eu sempre que via, lá no meu sertão Cabloco vaqueiro de grande bravura Num simples cavalo, na mata mais dura Com roupa de couro pegar o barbatão Dizia abismado com aquela impressão: 'não há quem o possa em bravura igualar' Mas depois que eu vi um praiano pescar Numa frágil jangada ou barco veleiro Achei-o, tão bravo tal qual o vaqueiro... Merece uma estátua na beira do mar