Carlos Tê / Rui Veloso
Já não há mais o vagar
De quando se comia sentado
E devagar se caminhava
Até chegar a qualquer lado
Agora vai toda a gente
Sempre de mão na buzina
Sempre na linha da frente
A tremer de adrenalina
Do meu vagar não traço rotas
Não tenho trilho que me prenda
Não tiro dados nem notas
Não encho uma linha de agenda
Do meu vagar não chego a meca
Não faço nada num só dia
Não corto a fita da meta
Não vejo roma nem pavia
Do meu vagar
Sei que nunca hei-de ir longe
Vou aonde for preciso
Vou indo do meu vagar
Em busca do tempo perdido
E se um dia o encontrar
O longe não faz sentido
Do meu vagar há um nicho
Um pico de ilha insubmersa
Onde há lugar para o capricho
Que dá pelo nome de conversa
Do meu vagar a paisagem
Ainda tem beleza em bruto
E vale mais uma palavra
Que mil imagens por minuto
Do meu vagar
Sei que nunca hei-de ir longe
Vou aonde for preciso
Vou indo do meu vagar
Em busca do tempo perdido
E se um dia o encontrar
O longe não faz sentido