Pétalas surdas, folhas de ébano
Flores nascendo pelo tapete gris
As tuas roupas andam sozinhas
Puxam correntes de solidão
Velhos poetas ingleses saem dos livros
Tontos de sono e pó nem olham pra ti
Insegurança e medo na tua casa
Foges pra rua e não sei mais o que
Muito bem, uma vez então na rua
As coisas melhoram
O dia é claro, a cidade se agita
A língua do sol lambe a calçada
Onde caminhas com teu ar de dama
Lambe a umidade das pedras, sarjetas
Postes e calhas
As pessoas suadas entram e saem
Entram e saem, entram e saem
Em lojas e ônibus e bares lotados
Geme um vento quente
Entre tuas coxas de dama
Tudo se excita, então procuras por mim
Mentira!
Tudo mentira!
Pura mentira!
Meu amor!
Agora aqui no meu quarto
Vens com toda essa história
Insegurança, medo e tesão
Te trouxeram pra cá
Pétalas surdas, roupas, correntes
Línguas, sarjetas, coxas
Talvez só os velhos poetas pareçam reais
Faz 10.000 anos que estou sentado aqui
Lendo esse livro
Faz 10.000 anos, me esqueça
Estou morto afinal
Em 10.000 anoscabem palavras exatas
Flores, correntes, sarjeta
E coxas parecem demais
Mentira!
Tudo mentira!
Pura mentira!
Meu amor!