Em dilemas atingo limiares de sanidade
Ou pensamentos inapropriados para a minha idade
Às voltas nesta cidade de muralhas de papel
Submersas em cinzeiros gastas até ao caramelo
Tu querias um sorriso belo, para o disfarce do meu tédio
Mas eu sei que para grandes males já não há remédio
A sério! Afinal quanto é o crédito refém?
Eu segui um sentido oculto, o único que a verdade contém
Nunca quis ir mais além, eu sinto que já ví tudo
Aceitas isto vindo dum puto sem estatuto?
Noitadas dedicadas ao estudo neste quarto escuro
A tinta já não escorre, só corre para que eu fique mudo
Sobrevivo neste mundo face ao rumo obrigatório
Sobre o hábito de doses de rum e gin tónico
Se grito demais fico afórico, só quero exibir o notório
Mas só me vejo a apodrecer até a data do meu velório
Há uma luz que me ilumina, é a
Mesma que ensina e agrava a minha exaustão
Já não o faço com prazer, corro por uma razão
Que não é própria, só cópia da satisfação
É impossível levar a vida com a seriedade devida
Quando cada noite é resumida em cinza entornada em bebida
Achas mesmo que alguém duvida...
Que haja alguém a rezar pela hora da tua partida?
Duas insónias seguidas, uma alma cansada
Folhas rasgadas e com sangue de uma veia queimada
Um vulto escondido numa postura curvada
Com olheiras notáveis e gordura na cara
Sem batimento no centro, não há alimento para o motor
O corpo tomba e não há dor que envolva a sombra
Ano 2000 e o resto que se foda
Por isso frente à lápide não esperes que alguém te responda
(Dá valor enquanto cá estás, não te entregues à vontade de ninguém
Sê tu próprio, não te deixes vergar! Eles querem que tu quebres!)