Eu fui ao cabo do mundo, pra ver qu'ele lá tinha
E em verdade vos digo, só vi pernas de galinha
Fiquei muito admirado, com tamanha criação
Qu'inté bendisse tal fado, com ar de degustação
Não sei de filosofia
Que dê mais consolo ao Zé
Que a perninha de galinha
Com molho de frica**é
Estava eu arregalado, já a lamber a beiçada
Vi o são pedro ao meu lado, com a figura cansada
Estendi a mão com franqueza, e disse com humildade
Há aqui grande largueza, sirva-se esteja á vontade
Ele olhou-me lá do alto
Como se olha a um crente
E fez o sinal da cruz
Enquanto ferrava o dente
É, é, é, é, ó...
Rapou tudo num instante, o bom santo de uma figa
Nem sequer foi bem-falante, nem armou nenhuma briga
Satisfeito se alimpou, sem me deixar ficar nada,
Complacente arrotou, a galinha abençoada
Disse mal da minha sorte
Roguei pragas ao fuinha
Veio de lá o vento norte
Deu-me uma coça na espinha
É, é, é, é, ó...
Podem esticar o pescoço - até
Em sinal de altivez - ou fé
Que uns roem o osso - a doutrina
Outro comem a carne divina - divina
Porque esta vida é a**im
Tal como a letra do fado
Pode ter rima ruim
Pode ser posta de lado
É, é, é, é, ó...