Meu sonho tem boca
Que o digam meus ossos
Tem dois olhos sobre a nuca
E reza todos os dias
Que em todas as horas
Houve um tempo
Sem mentira
Meu anjo da guarda é uma puta de maõs compridas
Maquilhagem carregada
E dá na fruta a puta
Barata desvairada escanzelada
Nas veias em vez de sangue corre-lhe cicuta
Ela ama-me
Pelo menos diz que sim
E eu sinto o mesmo por ela
à noite fico à espera que entre pela janela
Conta histórias doidas enquanto me adormece
E eu sorrio
Cada um tem aquilo que merece
E bebo as palavras e quase que me engasgo
São belas perco-me nelas sem me fartar
Sem quase nunca me fartar
Podiamos ficar nisto o resto da noite
Em lugar nenhum
No meio de um sonho
No meio de mim
No meio de ti
Bebo as palavras e quase que me engasgo
São belas perco-me nelas
Uma duas três "G"s
Acendemos beatas
Matamos baratas
E arrancamos o que resta do papel de parede
Vamo-lo rasgando bocado a bocado
Escrevemos frases chungas
Com um calhau caiado
Quatro cinco seis
Cantamos a música dos chulos lá fora
E dançamos a nossa valsa tão desengonçada
Embebedamo-nos de saliva até irmos ao tapete
Já são oito nove dez
E estamos fora de combate