[Rafael Cadena / (Magno Barbosa)]
Acordar não é de dentro
(Acordar é ter saída.)
Acordar é recordar-se
(Ao que em nosso redor gira.)
Mesmo quando alguém acorda
(Para um fiapo de vida,)
Como o que, tanto aparato
(Que me cerca, me anuncia:)
[Rafael Cadena]
Esse bosque de espingardas
Mudas, mas logo a**a**inas
Sempre à espera dessa voz
Que autorize o que é sua sina
Esses padres que as invejam
Por serem mais efetivas
Que os sermões que pa**am largo
Dos infernos que anunciam
[Falado]
Ei-lo que vem descendo a escada
Degrau a degrau. Como vem calmo
Crê no mundo, e quis consertá-lo
E ainda crê, já condenado?
[Ambos]
Já condenado?
[Magno Barbosa / (Rafael Cadena)]
Sabe que não o consertará
Mas que virão...
Se é procissão que me fazem
(Para imitá-lo)
Mudou muito a liturgia:
Não vejo andor para o santo
Nem há nenhum santo à vista
(Para imitá-lo)
Vejo muita gente armada
(Para imitá-lo)
Vejo só uma confraria
E tudo é muito formal
(Para imitá-lo)
Para ser uma romaria
[Rafael Cadena]
Talvez seja só em enterro
Em que o morto caminharia
Que não vai entre seis tábuas
Mas entre seis carabinas
[Magno Barbosa]
Mas o sol me deu a idéia
De um mundo claro algum dia
Risco nesse papel praia
Em sua brancura crítica
Que exige sempre a justeza
Em qualquer caligrafia;
Que exige que as coisas nele
Sejam de linhas precisas;
E que não faz diferença
Entre a justeza e a justiça
[Rafael Cadena]
A vista de nada serviu
Lado do sul, nenhum navio
Mas o ouvido, lado do forte
Acusou o estalo de tiros
[Magno Barbosa]
Não entendeu logo o que era:
É surda a forca e seus ruídos
Enfim entendeu: fora à bala
Que deram cabo de seu filho