Vejo nos bairros degradados gente com fome
Que não come
Gente que não trabalha e não dorme
Democracia é um pão para mim e dois para ti
Mas não foi a**im que eu aprendi
Que bom que seria igualdade entre as raças
Respeitar as diferenças é algo que talvez não faças
Culturas diferentes devem aprender entre si
Viver entre si e conviver entre si
Com tanta miséria p'ra que é que queremos guerra
Só porque sou negro mandam-me para a minha terra
Mentalidades tacanhas e ignorantes
Gente que quer que tudo seja como dantes
Querem um novo Hitler, um novo Salazar
Racistas e fascistas para o mundo acabar, não!
Não precisamos de mais violência
Contra a xenofobia ofereceremos resistência
O ódio está em todo o lado, disfarçado
Toda a gente o sabe, mas pelo poder ignorado
Cavacos que só querem no bolso pôr mais uns cobres
Gastam dinheiro à toa sem se lembrarem dos pobres
Dos pobres, dos pobres, dos quais fazemos parte
Não temos dinheiro mas da voz construímos nossa arte
A vida é ingrata
Coopero com os irmãos que vivem nos bairros de lata
Lidando com a pobreza, miséria, tristeza
A luz da revolta 'tá acesa
E ilumina a cidade
Com idiotas disfarçados que abusam da autoridade
Peões da falsa tolerância
Enquanto alguém na piscina comanda o povo à distância
Rejeito a hipocrisia, a falsa democracia
Se fosse verdadeira ninguém seria minoria
O emigrante discriminado é condenado ao gueto
Não interessa quem é, o que interessa é que é preto
Triste e desamparado, pois chora e ninguém liga
Sonha acordado à espera de uma mão amiga
Barriga vazia, família por sustentar
Obras não faltam mas sempre prontas a explorar
Ninguém o sustenta, ninguém o alimenta
Viver é difícil, se não consegue ao menos tenta
Truques inventa para pôr os filhos a estudar
Com fome, sem comida, com certeza hão-de chumbar
Pois a vida vem primeiro
Sem escola não há trabalho
Sem trabalho não há dinheiro
O tempo não pára, não escondas a cara, vai em frente
Tenta ser alguém não queiras ser delinquente
Luta por ti próprio tens de ser forte, ser duro
Diz não à violência, abre os olhos sai do escuro
O futuro será difícil, o presente já o é
A fé não a percas enquanto t'aguentares em pé
O dia de amanhã, só amanhã o saberás
Previne-te pois não sabes o que o futuro traz
Escolhe bem o teu caminho
Caminha com quem t'apoia, não caminhes sozinho
Eis a verdade
A verdade
Vejo-a nua, crua
Porque o meu dicionário é a rua