[Refrão x2]
Aí, neguinho, vou sentir saudades de você
A malandragem na quebrada nunca vai te esquecer
Que Deus perdoe os humildes de bom coração
A vida ensina de que vale o crime, irmão
[Verso 1]
Quem não se lembra do neguinho da favela?
Que quis morrer na batalha do que viver numa cela
Ao longe vejo um cortejo, hoje é dia do enterro
Em sua homenagem é que agora eu escrevo
As lágrimas rolam, molhando todo o papel
Ao relembrar sua vida e o seu destino cruel
Será que meu Deus do céu perdoou seus pecados?
Tomará que Jesus Cristo não pegue muito pesado
Respeitado na quebrada pelo seu jeito de ser
Sorriso sempre aberto sem deixar transparecer
Sua preocupação com a sua família
Pra não deixar nada faltar pra velha dona Maria
A cachaçada de domingo já era de lei
Dreia, c**a, dominó e os 3 quilos de acém
Juntava a rapaziada na caixa amplificada
Rolava rap nacional: "O Homem na Estrada"
Sem emprego, sem medo, mas a**im ele vivia
Um três janelas na cinta só pra fazer correria
Tatuagem nos braços, a pele escura é sem chance
Na 4º série, um bom salário é um sonho distante
Se meteu numa fita com os camaradas da área
Se deu de bem, ficou bonado: hoje vai ter feijoada
Chama as dona do Atitude só pra comemorar
E avisa que o neguinho hoje vai patrocinar
[Refrão x2]
Aí, neguinho, vou sentir saudades de você
A malandragem na quebrada nunca vai te esquecer
Que Deus perdoe os humildes de bom coração
A vida ensina de que vale o crime, irmão
[Verso 2]
Pessoas chorando, velório, cheiro de vela
O preto predomina, é tristeza na capela
Mais deixa pra lá, eu volto a relembrar
Momentos que na mente pra sempre vão ficar
Ele era como Santo Cristo, mas nasceu no DF
Não entendia a vida, se perguntava o moleque
Porque da desigualdade, preconceito covarde
Preto, pobre, fora da sociedade
Se emocionava ao ver os filmes do Lampião
Histórias da vida do justiceiro ladrão
O rei do cangaço não era homem de aço
Numa casinha armada, recebeu vários balaços
Morreu de braços dados com a sua dona
Amor bandido, traição, neguinho se emociona
Se espelhava no mais forte, sem ter medo da morte
Cascavel do DF, e pronto pra dar o bote
[Refrão x2]
Aí, neguinho, vou sentir saudades de você
A malandragem na quebrada nunca vai te esquecer
Que Deus perdoe os humildes de bom coração
A vida ensina de que vale o crime, irmão
[Verso 3]
O destino traçado, estava predestinado
A servir de exemplo pra aqueles que ficaram
E só sobraram as lágrimas, a dor e a saudade
Ferida aqui não cicatriza: ódio no peito que arde
E segue o enterro, eu vejo o desespero
Da sua dona chorando, a maquiagem escorrendo
Os seus olhos inchados, há toda descabelada
E o seu filho do lado, que sempre perguntava:
"Por que meu pai não acorda, mãe?
Balança ele, ele deve tá brincando, joga água nele
Por que você tá chorando? Você nem se machucou?
Oh, o que meu pai me trouxe: um monte de flor"
Cada um numa alça, é hora da despedida
E todos se abraçando, presenciando a descida
No caixão na cova e uma tristeza profunda
De ter perdido um chegado, um companheiro de rua
Mas é a**im: a vida pa**a como chuva de verão
E fica sempre um vazio, um aperto no coração
Falta uma estrofe na canção, falta palavras no poema
Mais de mil me ouvindo, mas falta sua presença
Como piada sem graça: é como um rap sem rima
É como se eu não tivesse mais Atitude Feminina
A vida ensina e você tira sua conclusão
Eu te pergunto de que vale o crime, irmão?
[Refrão x2]
Aí, neguinho, vou sentir saudades de você
A malandragem na quebrada nunca vai te esquecer
Que Deus perdoe os humildes de bom coração
A vida ensina de que vale o crime, irmão