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Aldeia da Meia-Praia
Ali mesmo ao p de Lagos
Vou fazer-te uma cantiga
Da melhor que sei e fao
De Monte-Gordo vieram
Alguns por seu prprio p
Um chegou de bicicleta
Outro foi de marcha a r
Houve at quem estendesse
A mo a me caridade
Para comprar um bilhete
De paragem para a cidade
Oh mar que tanto forcejas
Pescador de peixe ingrato
Trabalhaste noite e dia
Para ganhares um pataco
Quando os teus olhos tropeam
No voo duma gaivota
Em vez de peixe v peas
De ouro caindo na lota
Quem aqui vier morar
No traga mesa nem cama
Com sete palmos de terra
Se constri uma cabana
Uma cabana de colmo
E viva a comunidade
Quando a gente est unida
Tudo se faz de vontade
Tudo se faz de vontade
Mas no chega a nossa voz
S do mar tem o proveito
Quem se aproveita de ns
Tu trabalhas todo o ano
Na lota deixam-te mudo
Chupam-te at ao tutano
Chupam-te o couro cab'ludo
Quem dera que a gente tenha
De Agostinho a valentia
Para alimentar a sanha
De esganar a burguesia
Diz o amigo no aperto
Pouco ganho, muita lria
Hei-de fazer uma casa
Feita de pau e de pedra
Adeus disse a Monte-Gordo
(Nada o prende ao mal pa**ado)
Mas nada o prende ao presente
Se s ele o enganado
Foram "ficando ficando"
Quando um dia um cidado
No sei nem como nem quando
Veio baila a habitao
Mas quem tem calos no rabo
- E isto no segredo -
sempre desconfiado
Pe-se atrs do arvoredo
Oito mil horas contadas
Laboraram a preceito
At que veio o primeiro
Documento autenticado
Veio um cheque pelo correio
E alguns pedreiros amigos
Disse o pescador consigo
S quem trabalha honrado
Quem aqui vier morar
No traga mesa nem cama
Com sete palmos de terra
Se constri uma cabana
Eram mulheres e crianas
Cada um c'o seu tijolo
"Isto aqui era uma orquestra"
Quem diz o contrrio tolo
E toda a gente interessada
Colabarou a preceito
- Vamos trabalhar a eito
Dizia a rapaziada
No basta pregar um prego
Para ter um bairro novo
S "unidos venceremos"
Reza um ditado do Povo
E se a m lingua no cessa
Eu daqui vivo no saia
Pois nada apaga a nobreza
Dos ndios da Meia-Praia
Quem v na praia o turista
Para jogar na roleta
Vestir a casaca preta
Do malfro ** capitalista
Foi sempre a tua figura
Tubaro de mil aparas
Deixar tudo dependura
Quando na presa reparas
Das eleies acabadas
Do resultado previsto
Saiu o que tendes visto
Muitas obras embargadas
Mas no por vontade prpria
Porque a luta continua
Pois dele a sua histria
E o povo saiu rua
Mandadores de alta finana
Fazem tudo andar pra trs
Dizem que o mundo s anda
Tendo frente um capataz
E toca de papelada
No vaivm dos ministrios
Mas ho-de fugir aos berros
Inda a banda vai na estrada
Eram mulheres e crianas
Cada um c'o seu tijolo
"Isto aqui era uma orquestra"
Quem diz o contrrio tolo
* Texto e musica para o filme: ndios da Meia Praia, realizado por Cunha Teles.
A verso do disco no inclui todas as quadras.
** Palavra algarvia que significa dinheiro.