Felipe Lima - Solidão lyrics

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Felipe Lima - Solidão lyrics

“Hoje, eu percebi que tenho 40 anos e um imenso vazio cerca o meu ser e a minha alma. Eu cheguei até isso; foi até onde minha vida me conduziu. Estou numa imensa escuridão, às vezes tenho a impressão de que estou afundando. Tento respirar, e sinto que minha única saída, minha única esperança é talvez imergir completamente nesse negrume, como em um coma. Não para fugir dele, nem para o observar, mas para abraça-lo ultrapa**á-lo. A dor é mais forte do que nunca. Vi pedaços de paraísos perdidos e sei que tentarei desesperadamente retornar, mesmo se isso machucar. Quanto mais oscilo entre as regiões profundas do não-ser, mais sou jogado de volta para mim mesmo, em direção a profundidades cada vez mais a**ustadoras, até que meu ser se torna vertiginoso. Há breves lampejos de um céu claro, como a queda de uma árvore. Então tenho a vaga ideia do lugar para onde vou, mas ainda há muita claridade e uma ordem estrita das coisas. De alguma maneira, acabo sobre os mesmo resultados. Então vomito pedaços quebrados de palavras e de sintaxes, de países por onde pa**ei, de membros partidos em um matadouro, de geografias. Meu coração está envenenado, meu cérebro, abandonado em farrapos de horror e de tristeza. (...) Enquanto não me reencontrar e permanecer na superfície, não tenho de ir muito longe, não tenho que tomar decisões terríveis e dolorosas, escolhas de onde e como ir. Isso porque, bem profundamente, há terríveis decisões a tomar, terríveis pa**os a dar. É aos 40 que morremos, quando não acontece aos 20. É aos 40 que traímos a nós mesmos, nossos corpos, nossas almas, quer seja sobre a superfície, quer seja indo além, através das decisões mais fáceis que retardam, lançam nossas almas por milhares de encarnações pa**adas. Mas estou próximo do fim, agora. E a questão é: devo fazer isso ou não? Minha vida se tornou muito dolorosa. Continuo a me perguntar: o que faço para sair de onde estou? O que eu faço da minha vida? Demorei certo tempo pra compreender que o amor é o que distingue os homens das pedras, das árvores e da chuva; que o amor cresce através de si próprio. Sim, eu estava tão perdido, verdadeiramente perdido. Houve vezes que tentei mudar o mundo, construir o meu caminho através da civilização ocidental. Agora, quero deixar os outros sozinhos, eles têm seu próprio e terrível destino a seguir. Agora, eu quero construir um caminho em direção a mim mesmo, na espessura noturna do meu eu. Assim, mudo meu curso, meu amor vai para o interior; a**im, salto sobre minha própria escuridão. Seja como for, deve haver algo, eu o sinto, muito recente, que deve me dar um sinal para ir numa direção ou na outra. Agora, devo estar atento e aberto, completamente aberto. Sei que está vindo. Caminho tal qual um sonâmbulo que espera um sinal secreto, pronto pra ir por um caminho ou por outro, à espera do indício ou do chamado mais fraco, no imenso e branco silêncio. Sento aqui, sozinho e longe de você. É noite e penso sobre tudo que está ao meu redor. Penso em você. Vejo em seus olhos, no seu amor, você também está mergulhando nas profundezas do ser, em círculos cada vez maiores. Vi a felicidade e a dor nos seus olhos, os reflexos do paraíso perdido e reencontrado, e perdido novamente. Terrível solidão e alegria. Sim, reflito sobre isso, e penso em você, como se fossemos dois astronautas solitários e perdidos no gélido espaço. Enquanto estou aqui, sentado sozinho, tarde da noite, penso em tudo isso e em você. Por um breve instante, não sei desde quando nós nos conhecemos, em que lugar entre as palavras, os sonhos, as imagens, o espaço entre as palavras, talvez... E fico feliz. Olho dentro deste espaço infinito e frio que pa**a silenciosa a lentamente vejo uma distância azul metálica e imensurável entre nós mas sei que você está lá. Posso sentir o seu coração bater, meu amor.” Jonas Mekas (trechos do filme Songs of Avignon)