Meu lunário tem antigas Alquimias de almanaque Já enfrentou intempéries Roubos, incêndios e saques: Dos homens, das traças, das garras das eras Carrega segredos, decifra quimeras Venceu todos os ataques O meu lunário perpétuo Sob o sol é luzidio Meu lunário foi forjado Num fogo de desafio Que vibra, esquenta, atiça, aperreia Faísca, enlouquece, que pega na veia Pelos séculos a fio O meu lunário perpétuo Guarda as vozes seculares Do profeta de canudos E do mártir dos palmares Sonhando com o reino do espírito santo Na terra, no céu, em todo recanto Nos terreiros e altares O meu lunário perpétuo É meu livro precioso Minha cartilha primeira Minha bíblia de trancoso João grilo, chico, malazartes, mateus Os órfãos da terra, os filhos de deus Heróis do maravilhoso Meu lunário é a memória De um país que vai pa**ando Diante dos nosos olhos Rindo, mexendo, cantando Mestiço, latino, caboclo, nativo É velho, é criança, morreu e tá vivo... Presente, mas até quando? Meu lunário é conselheiro Meu folheto, é meu missal Atravessando os milênios Cada ponto cardeal De norte a sul, de pai para filho De lá para cá, meu livrinho andarilho Fabuloso romançal