[Versos 1: SØS]
Se pensar porque escrevo
Lembro-me de uma festa e de um enterro
No vale do silêncio são de três folhas os trevos
Não é por acaso que me atrevo a escrever
Escrevo, escrevo, escrevo
Aí sim, pendo dois isqueiros vazios e acendo um
Cigarro caído sob o acento
Atrás de mim mesmo, recuo displicente
Recordações retorcendo
Sendo que o retrovisor está tremendo
Paro em Santos, o carro do meu velho
Enquanto calmo, de karma cheio, esvazia a caixa do correio
Remetente 52 3º esquerdo
Sem data, pois estou renitente quanto ao degelo
Isto é, tenho é de sê-lo e hei-de dar a cara a um selo
[Versos 2: Sam The Kid]
Eu nunca fui um postal
Mas vou-me pôr a compor
E se um dia eu for, eu serei ancestral
De um chaval que dá valor
Ao o que escreve no caderno
Ele vai querer "amostrá-lo"
Põe o processo em progresso ele exerce a verdade
Cada verso que aparece é vontade de se encontrar
Ele só quer é ser amado mas se vier bué armado
Eu levo o meu arsenal
Isso nunca me convence
Ele volta ao meu berço
Eu não vou ensiná-lo
Quer o segredo da cadência
Eu na minha exigência
Nem vou mencioná-lo
Nem um sinal
Tou no vale do silêncio intencional
Onde eu fui benzido
Onde eu fui vencido
Onde eu fui vencendo
Até tar convencido
Que é só ver o redor
Decora o décor
Põe a língua a soar o som do teu suor
E à noite a sonhar, a pensar num sonoro
Ele distingue e separa, a fama não o suborna
Para que nunca se torne mais um cromo na praça
Mas a fome não pa**a, ele tem a fome no máximo
E, diariamente mata-se, esfola-se
E não se consola se não ficar flawless!
Aí sim
Com o carisma que abisma
O trabalho é a sorte
A caneta é o talismã
Aí sim
Com visão de artesão tem o dom
Tem o brilho, a razão da adesão
Mete-se na pesquisa e organiza
Como é que se an*lisa na Lisa codex
Na janela tem o céu
Aí sim, o reflexo
Na rua tem chapéu, anda circunflexo
Aí sim
[Versos 3: SØS]
Sinto a vitória por um fio
Cada texto é um ó Tio!
(aí sim)
Ó tio, ó tio, ó tio, ó tio
(aí sim)
Etc, escritor, pintor, pavio, pateta
O Vale está em silêncio porque os cães estão com fomeca
Sem trela por Chelas molham a carcaça nas moelas
Molhos de prédios, pevides, cascas, Moscavide e Odivelas
Menina, nublina, na manhã que é aguarela
K à volta das costelas
História e tela, S no peito de Storyteller
E aí sim!
A Insígnia d'oiro na lapela, cintila!
Fábula feita de flanela
áspera, arrasta uma rotina e, senta-te nela
Se o emprego não presta
Pesto não peta, não gota de Feta, tudo é fatela
Faça-se silêncio na capela…
Gola e goela degolada acapella
Colarinhos em fumo a flutuar como velas