Urubu, meu companheiro, Te achei numa charneca Com as asas machucadas, te levei pra minha casa. Te guardei numa gaiola Para enfeitar a sala, Sobre ti a noite é negra, urubu, canta pra gente. Não inveje os outros cantos, Outras plumas e outras cores, Que de todos és o primeiro, Urubu tu és tão negro. Se não há quem te escute, Eu te escuto e te traduzo, O teu canto tem mais vida, Urubu, canta um pouquinho. Se eu te dou banana e alpiste,
Tu vomitas, endoidece, Mas se for carne estragada, Bate as asas e agradece. Quem diz que urubu não canta, Quem faz pouco do que eu digo, Para quem não crê em nada, Urubu, mais um pouquinho. Eu vou te deixar agora, Com meu coração partido, Voa pelo mundo à fora, Cumpra teu honroso ofício. Acharás pelo caminho Bois, cachorros, criancinhas, O sertão é aqui, agora, Urubu, mais um pouquinho.