Sempre vivi com pouco, nunca precisei de muito
Não faz de mim um ignorante sem ambição ou orgulho
Sempre fui um puto humilde sem ténis ou roupa de marca
Só calças antigas com joelheiras de napa
Camisas, polos, camisolas com cotoveleiras
Não tinha calçado nenhum
Ia para a escola de chuteiras
Fiquei apaixonado pela bola desde cedo
Sonhava um dia, quem sabe, fazer dela o meu emprego
Mas na vida tudo muda
Quem muda, Deus ajuda
Tive de ser o homem da casa quando a mãe ficou viúva
Arranjei o primeiro emprego, o ordenado metia medo
Mal o fim do mês chegava, ficava logo totalmente teso
Não tinha dinheiro que chega**e pra comprar material
Mas não deixei que isso atrasa**e o meu percurso musical
Comecei a fazer festas e a marcar os meus concertos
Quantos kilometros a pé a distribuir cartazes e panfletos
Eu, sou o que sou, não sou perfeito
Algumas virtudes, alguns defeitos
Quem me conhece, bem lá no fundo
Sabe quem sou para além do Mundo Segundo Manos diziam "sê comercial, não corras tantos riscos, sendo um pouco mais ban*l venderás muitos mais discos"
Entre risos confessei que a questão não era económica
E que esse clichê no rap, já há muito era doença crónica
Escrevo para me sentir livre, como a queda da PIDE
Como o gigante Golias
Que tomba frente a este pequeno David
Antes a vida fosse, nem tão doce nem tão amarga
Mas quase sempre esca**eia
Raramente é tudo à brava
Não seria tão feliz, se compra**e tudo feito
Não seria tão feliz, se não reconhecesse os meus defeitos
Por vezes foi por um triz
Metido em caminho estreito
Mas sempre fui eu que fiz a cama na qual me deito
Muitos manos não são fiéis ao que realmente são
E depois vergam-se frente aos que realmente são
Tu, exprime-te da melhor forma
Contorna a norma de quem se torna
Ou sorna da moda vítima da fórmula
Eu, sou o que sou, não sou perfeito
Algumas virtudes, alguns defeitos
Quem me conhece, bem lá no fundo
Sabe quem sou para além do Mundo Segundo Sou mais uma formiga em prol do bem desta colónia
40 graus ao sol e inúmeras noites de insónia
Tenho um sonho de miúdo, neste corpo de graúdo
Esta mala que me acompanha contém vasto conteúdo
Puro lírico, poético, real e visual
Distante do sintético, do fútil e do trivia
Perguntei a um puto o que queria ser quando fosse grande
Ele disse que possível nada e enriquecer num instante
Sorriu com ar de esperto, mas de pouco inteligente
Meu puto sem um plano a tua vida não anda pra frente
Com desalento vejo talento
Perdido ao sabor do vento
Muitos manos não fazem nada e dizem ter falta de tempo
Enquanto estavas na pista
A queimar o dinheiro em bebidas
Eu estava a investir o meu
Num estúdio e num par de batidas
Num par de rimas que agora escutamos aqui
Meu puto tu faz-te à vida antes que a vida te faça a ti
Eu, sou o que sou, não sou perfeito
Algumas virtudes, alguns defeitos
Quem me conhece, bem lá no fundo
Sabe quem sou para além do Mundo Segundo