Por mais que eu queira ou não queira Salta-me a voz para a cantiga Por mais que eu faça ou não faça Quem manda é ela, por mais que eu diga Por mais que eu sofra ou não sofra Ela é quem diz por onde vou Por mais que eu peça ou não peça Não tenho mão na voz que sou. Mesmo que eu diga que não quero Ser escrava dela e deste fado Mesmo que fuja em desespero Ela aparece em qualquer lado Mesmo que vista algum disfarce Ela descobre-me a seguir Mesmo que eu chore ou não chore A voz que eu sou desata a rir.
Por mais que eu quisesse ter Só um minuto de descanso Por muito que eu lhe prometesse Voltar a ela e ao seu canto Por muito que eu fizesses juras A esta voz que não me deixa Perguntou sempre tresloucada: Eu já te dei razão de queixa? Por muito que eu apague a chama Ela renasce ainda maior Por muito que eu me afaste dela Fica mais perto e até melhor Por mais que eu queira entender A voz que tenho é tão teimosa Por mais que eu lhe tire a letra Faz por esquecer e canta em prosa.