Francisca veio lá do norte, de onde
Também vieram meus avós e pais
Talvez em busca de novos horizontes
No tempo em que eu não era nem nascida
Mas se eu nasci há tanto tempo já
Que meu pa**ado está perdido em brumas
Rasteiras e fumaça, o que dizer
Do dela?
Do dela tão mais distante?
Me diga, Francisca, me diga
Francisca veio para o sul há tempos
E já chegou sonhando em retornar
E cultivar em meio a certas brenhas
Algum roçado junto à sua mãe
Ela era quase ainda uma criança
E lá ficava o mundo de verdade:
O sol a chuva a noite a festa a morte
A vida
A aguardá-la, ainda mais distante
Me diga, Francisca, me diga
Parnaíba, Ipiranga, Rio Longá, Campo Maior
Um certo norte está onde ela está
Em frente `a praia de Copacabana
Onde ela faz cuscuz, beiju ou peta
E seu sotaque é cada vez mais forte
Me diga, Francisca, me diga
E ela ralha com o feirante esperto
E tem conversas com a mãe ausente
E o sabiá pousado no seu dedo
Que aponta
Algum lugar tão mais distante
Entre o nordeste que deixou na infância
E o sul que nunca pareceu real
A Francisca tem saudade de uns lugares
Que pa**am a existir quando ela os pinta:
São mares turquesados e espumantes
Em frente a uns casarões abandonados
Que, não sei bem porque, nos desamparam
No meio
De algum lugar tão distante
Me diga Francisca, me diga