Preciso de uma viagem aos confins do meu interior Procurar a dor, ir onde for para calar o horror Percorrer os lugares de solidão, e talvez assim Como um sonho interrompido, poder cair em mim Ter um espaço onde eu habite esvazie o sentimento Tropeçar na sombra do lamento e cair em esquecimento Num poço sem fim onde apenas restam ruínas Descer tranquilamente como o sangue nas narinas Dilacerar as feridas profundas como raizеs Um fardo desumano para criar cicatrizes Tumular por dentro cada trauma rеprimido Voltar a ser vulnerável como um recém-nascido Num silêncio, tão vazio, como o escuro do abismo O corredor da morte ganha o seu protagonismo Caminhar para o pó ver o monstro a ser desfeito Poupando da miséria de um declínio imperfeito
Desafiar o convencional, uma identidade ténue Com ideias preconcebidas como folha perene Inerte, olhar o abismo que se desfaz lentamente Como um sadismo louco de quem vive cegamente Preparar para ser nada e do nada poder ser tudo Em suplicio pedir para que o meu vicio fique mudo Sentir a verdade a me desfazer e em carne viva A nova pele cobrir-me com uma nova perspectiva Atormentado saber que nada disto é eterno Só ter as dores e ansiedade a bater no esterno Nos olhos, o vazio, a ser espelhado na alma Almejar que o pavio consiga manter a forma Poupar-me da miséria de aos dias sobreviver E aceitar que devagar estou a desaparecer Esvaziar todo o lamento e poder ser um novo eu Saber que o que existia em mim, morreu!