[Parte 1] Mal a noite se foi, cornetas anunciam a alvorada Nas camas de campanha o dia nasce em hora errada No nosso acampamento sobraram poucas luzes Na espera das famílias, voltaram muitas cruzes Entre mentiras e mártires, trincheiras e arames Casas desabam como lagrimas e o aço voa como enxame Medalhas e caixões, horas são os últimos minutos Em utopias românticas as flores se fecham em luto Virtudes se perdem, voz trêmula, coração frágil Na guilhotina sorriso do carrasco é mal pressagio Somos sombras vivas de uniforme e fuzil Crepúsculos surgem no céu, estamos onde Lúcifer caiu Sem boas novas, nunca, apenas cálculos mal traçados Na nossa frente um mar de ódio na forma de solitários e a**ustados Perdidos iguais a nós, anti cristos da mesma trama Sons de lições mortas são ecos de coros tombando na lama Nem sendas nem atalhos, só uma tristeza fria Essa é a marcha dos soldados que não vão ver o nascer de um outro dia [Parte 2] Pa**o as noites no bar do limbo, comemoro a vida como um prêmio Na guerra, o sereno protege os pa**os dos boêmios Cantamos hinos e parodias banhadas a rum Sobre esperanças despedaçadas e Djavus de Platoon Quero amores de cabaré, caricias vãs pela manhã Mas em amarras de rancor meu coração é o Vietnã Nossa cruz é pesada demais Carrego a dor da mãe dos meus inimigos na forma de funerais Somos filhos da insegurança a mando da ambição Uma muralha de orgulho e um deserto de solidão Excitação e pavor, feridas vermelho carmim Decoro detalhes dos instantes enquanto diabos zombam de mim Um céu sem Deus, só artilharia anti aérea Entre os meus melancolia contamina igual doença venérea Enterramos os mortos em covas rasas e armas na mão
Caso os anjos se neguem a lhes abrir o portão Um pelotão de beijos e promessas deixados no ar Dizimados por certezas de amanhãs sem chegar [Parte 3] Dizer adeus é uma arte, lembro de acenos, despedidas Na viagem nutrimos um ódio fruto de uma fé falida Capelas destruídas, sinos soturnos a sós Contradições que caminham perguntam, Deus esqueceu de nós? Padres nos dão a extrema unção, sou jovem demais pra morrer Palavras se esfarelam no ar em frases sem dizer Estigmaras nascem de dias lentos Herói de guerra são frustrações batizadas no dia do nascimento Enquanto o tempo escorre e a**opra amores fracos Viramos fotos 3 por 4 em livros amarelados e opacos Brisas trazem recordações, meu general fala, eu concordo Somos lindas ilusões em olhares de solidão que vieram a bordo Sem tardes a beira mar, sem af*go, sem pa**ado Nuvens cinzas invadem o céu, querubins ficam calados Aviões cobrem o sol, projeteis furam a couraça Transformando o navio e meus companheiros em carcaça Cheiro de pólvora, enxofre, dor, devaneio O mar tem gosto de amnésia, a água cheiro de eu te odeio Queria tâmaras e damascos, decks de piscina Mas sou um recado do tempo anestesiado de morfina Numa neblina densa a respiração é dolorida Vejo bruxas disputarem a atenção de corpos já sem vida Gosto metálico na boca, agora é difícil raciocinar Desculpa mãe, teu filho é herói e não vai mais voltar Sinto a roupa grudar no corpo, agora sou eu e minha fé O tempo não faz barulho porque a morte caminha na ponta dos pés Fim do ato, câmera lenta, deitado tento pensar Ouço vozes vindas do breu e sinto meu mundo se apagar