NÃO sabia em que modo festeja**e O Rei Pagão os fortes navegantes, Pera que as amizades alcança**e Do Rei Cristão, das gentes tão possantes. Pesa-lhe que tão longe o apousenta**e Das Europeias terras abundantes A ventura, que não no fez vizinho Donde Hércules ao mar abriu o caminho. 2 Com jogos, danças e outras alegrias, A segundo a polícia Melindana, Com usadas e ledas pescarias, Com que a Lageia António alegra e engana Este famoso Rei, todos os dias, Festeja a companhia Lusitana, Com banquetes, manjares desusados, Com frutas, aves, carnes e pescados. 3 Mas vendo o Capitão que se detinha
Já mais do que devia, e o fresco vento O convida que parta e tome asinha Os pilotos da terra e mantimento, Não se quer mais deter, que ainda tinha Muito para cortar do salso argento; Já do Pagão benigno se despede, Que a todos amizade longa pede. 4 Pede-lhe mais que aquele porto seja Sempre com suas frotas visitado, Que nenhum outro bem maior deseja, Que dar a tais barões seu reino e estado; E que enquanto seu corpo o espírito reja, Estará de contino aparelhado A pôr a vida e reino totalmente Por tão bom Rei, por tão sublime gente.