Como tudo que dói
A tarde vai queimando o lixo e a beleza no seu véu
De fumaça e cinza
Espalhando o calor e o silêncio no abandono do dia
O ar quente treme no espelho do asfalto
Refletindo pedras e restos de cães atropelados
O céu de urubus em espiral
Estampa, desliza e prolonga a sensação do vazio
Aí eu me pergunto: hoje é véspera de que?
Aí eu me pergunto: hoje é véspera de que?
Talvez hoje seja, simplesmente, véspera de nada
Pensamentos viram fumaça na tarde
Condensando o alento de uma esperança feita de nuvens
Sonhos com uma trégua de orvalhos noturnos
Desaparecem no bafo quente do agouro de mais e mais e mais desertos
E a alma se entrega chorando
Numa última oração à primeira estrela que resta
Como se pudesse reinventar horizontes
Para manhãs abandonadas
Aí eu me pergunto: hoje é véspera de que?
Aí eu me pergunto: hoje é véspera de que?
Talvez hoje seja, simplesmente, véspera de nada