Nossos ancestrais têm história
Têm memória
Têm lugar
E de onde eles vêm não tem como questionar
A cor que brilha na pele da rainha do mar
De seios fartos, quadris largos
Fios crespos, coroa que enfeita
A trajetória do nosso povo constrói sua imagem e afirma:
Yemanjá é preta!
Seu espelho não reflete lisos e longos
Nem tão pouco traços finos
Sua origem não condiz com essa narrativa
Não foi isso que contamos às nossas meninas, aos nossos meninos?
Tiraram de nós a dignidade e a cara dos nossos orixás?
Que as águas levem o que foi
E possamos dеixar lá atrás
Uma representação quе não nos contempla
Não condeno quem aceita
Mas é importante que saibamos:
Yemanjá é preta!
Já na alvorada prepara-se a barqueta
Flores brancas
Alfazema...
E o canto entoado é protesto engasgado:
Yemanjá é preta!
Preta
Peixes no mar, sol no céu...
Pássaros, borboleta
E outras tantas testemunhas
Repetindo em coro:
Yemanjá é preta!
Yemanjá é preta!
Yemanjá é preta!
Yemanjá é preta!
Oh, Yemanjá é preta! (Preta, preta!)
Yemanjá é preta!
Yemanjá é preta!
Yemanjá é preta! (Preta!)
Yemanjá é preta!