Convidado pelo próprio Raphão para ouvir sua nova mixtape com Rodrigues BOMA, antes mesmo do lançamento, foi algo interessante, principalmente porque gostei bastante do último trabalho do Alaafin, "Eu Gosto" (2015). Quem não conhece o Raphão por este disco, ou pelo menos pela música "Talento é Trabalho", que conta com um clipe recheado de participações de nomes do rap nacional, deve conhecer o MC pelo verso na faixa "Mandume", uma das melhores do ano pa**ado Deixando as introduções de lado, vamos começar a falar do trampo A primeira faixa, ou introdução, podemos dizer que é abusada. "Fora Temer" é uma coletânea de áudios bem espertas sobre a situação atual do governo do país, ao fundo ouvimos um som latino, aparentemente inspirada em Narcos. "Segundamente RapGame" dá início ao disco com uma produção que lembra bastante o último trampo do Raphão, que é também tom desta mixtape, inclusive a faixa vem sem refrão como muitas faixas de "Eu Gosto" (2014). A letra é bem humorada, cheia de referência e a levada do MC vem sem esforço. Um bom começo para o disco Com um áudio, abrindo e fechando a faixa, de alguém recitando e discutindo uma tradução de uma letra do J. Cole sobre a apropriação cultural, "Antes de Elvis ser Presley, Chuck já era Berry" deixa claro qual o tema da faixa. Todos os MC que aparecem na faixa chegam com uma certa agressividade, tanto na entrega quanto da letra. Aproveitando a onda de tretas no rap nacional, há algumas indiretas aos MCs mais mainstream da nossa cena Em um clima mais leve, "Oprah" é uma love song. Com referências e abuso nas figuras de linguagem, rudo de forma bem divertida. A faixa é curta, logo chega "Eu Sou Assim (Remix)", em uma produção mais acelerada. O refrão é um sample de José Augusto. Em alguns momentos temos umas mudanças interessantes na produção, como na parte que Dikampana fala de pagode ou ao final da faixa com sample de soul
"Telefone" diminui o ritmo novamente. JS no refrão manda muito bem. A letra continua no estilo Alaafin, onde o MC discorre sobre a dependência as tecnologias, principalmente com relação ao cônjuge. Em seguida, "Eis a Exceção" fala sobre a sua história na música. RG do QI mandou bem, mas Raphão explorou melhor a produção. De novo no refrão, JS reforça que superar as dificuldades é a única opção de quem vem das periferias Em "O Próximo do Zózimo Bulbul", Raphão fala do negro na TV e cinema, são muitas referências e nomes, como o próprio Zózimo Bulbul, um ícone negro no cinema brasileiro. É uma ótima faixa para fechar o projeto Rodrigues BOMA mandou muito bem nas produções e o disco em si é uma típica mixtape, cheia de scratchs e áudios entre as faixas ou durante as faixas. Raphão também não decepciona nas rimas, mostrando toda a sua característica na levada e punchlines engraçadas Talvez o projeto não seja um destaque do ano, afinal tivemos alguns discos que se sobressaíram dos demais e alguns lançamentos de peso ainda para serem lançados. Porém, acredito que seja uma boa sequência ao disco "Eu Gosto", como uma maneira de não deixar os fãs sem nada novo para ouvir. Além disso, me parece que Raphão encontrou uma boa identidade, se diferenciando dos outros MCs da cena. Espero que continue neste caminho