[Verso 1: Gabriel, o Pensador]
Bom dia, mulher
Me beija, me abraça, me pa**a o café
E me deseja "Boa sorte"
Que seja o que Deus quiser
Porque eu tô indo pro trabalho com medo da morte
Nessas horas eu queria ter um carro-forte
Pra poder sair de casa de cabeça erguida
E não ser encontrado por uma bala perdida
Querida, eu sei que você me ama
Mas agora não reclama, eu tenho que ir
Não se esqueça de botar as crianças debaixo da cama na hora de dormir
Fica longe da janela e não abre essa porta, não importa o motivo
Por favor, meu amor, eu não quero encontrar você morta
Se eu voltar pra casa vivo
Mas se eu não voltar não precisa chorar
Porque levar uma bala perdida hoje em dia é normal
Bem mais comum do que morte natural
Nem dá mais capa de jornal tchau
Se eu demorar, não precisa me esperar pra jantar
E pode começar a rezar
[Refrão]
Pra variar estamos em guerra
Pra variar estamos em guerra
Pra variar estamos em guerra
Pra variar estamos em guerra
Pra variar...
[Verso 2: Gabriel, o Pensador]
Quem tá na chuva é pra se molhar
Quem brinca com fogo pode se queimar
Mas eu num quero ser mais um nas estatísticas
Num quero que meu corpo vire atração turística
Ensanguentado, vítima de um crime sem culpado, encaminhado prum exame de balística
Todo dia morrem dois ou três
Eu só quero saber quando vai ser a minha vez
Onde será
No circo, na praia, no supermercado, na mesa do bar
Ou na fila do banco
No trem da central
No ponto de ônibus
Parado no sinal
Ou a**istindo TV, na segurança do lar
Onde será que uma bala perdida vai me achar
Se eu pudesse escolher eu morreria dormindo
Sem sentir muita dor
Eu sei que eu ainda sou muito novo pra morrer
Mas outro dia esse desejo quase se realizou
Uma bala de fuzil se perdeu num tiroteio
E veio parar no meio do meu travesseiro
Só não me acertou em cheio
Porque eu tava com prisão de ventre, no banheiro
Atualmente eu já me deito esperando o pior
E pra facilitar eu já durmo de paletó
Meu caixão também tá pronto atrás da porta, enrolado com a bandeira do Brasil
E quando eu sonho com o futuro eu acordo inseguro
Escutando mais um tiro de fuzil
[Refrão]
Pra variar estamos em guerra
Pra variar estamos em guerra
Pra variar estamos em guerra
Pra variar estamos em guerra
Pra variar...
[Verso 3: Lucia Perez]
Eu sou uma bala perdida, uma bala desgraçada
Inofensiva, feito uma criança abandonada
Eu estou sendo injustiçada
Não sou culpada
Se eu tô aqui é porque eu fui disparada
Eu não queria entrar na arma mas o dedo foi mais forte
O dedo me pôs na arma, puxou o gatilho
Então porque que eu sou responsabilizada pela morte?
Eu gostaria de ser uma bala de mel
Feita com amor, embrulhada num papel
Mas vocês me fizeram pra acabar com a vida
Desde que eu nasci eu sou uma bala perdida
Eu sempre fui perdida, por natureza
Até num suicídio ou em legítima defesa
A maioria ainda nem percebeu:
Vocês tão muito mais perdidos do que eu
[Refrão]
Pra variar estamos em guerra
Pra variar estamos em guerra
Pra variar estamos em guerra
Pra variar estamos em guerra
Pra variar...