Dois irmãos gêmeos, um bonito e um feio / desde cedo o bonito sacaneava o feioso / dizendo que ele mais tarde ia trabalhar num rodeio / fazer careta pro touro e deixar o bicho nervoso / "Cala a boca, pentelho!", repondia o feinho / "Vai casar com o espelho? Então fica sozinho" / e o feio saía sempre fazendo amizade, sem a menor vaidade / popular na cidade / na adolescência, malandro, mandava bem nas festinhas / e o bonito bolava se aparecia um espinha / "Que espinha nem cravo, meu irmão, não esquenta! Eles apagam a luz antes da música lenta!"
"Uh, uh, uh, que beleza!"
E muito tempo depois, vendo o seu irmão tão lindo e tão mal humorado / o feio, sorrindo, criou um belo ditado: / "A beleza é pa**ageira, mas feiúra é um bem que a gente tem pra vida inteira" / A mulherada gostava, a natureza foi sábia / ele perdia em boniteza mas ganhava na lábia: / "aí, gatinha, chega aí, chega mais perto, não tema / eu sou 100% feio, eu sei, qual o problema? / eu sou feio mas te faço feliz, com palavras gentis / um papaya com licor de ca**is / o feio sabe o que faz, o feio sabe o que diz / os detalhes sutis, você vai pedir bis / mais vale um feio maduro que dez galãs infantis / então pensa num ator, que eu penso numa atriz / apaga a luz e vem que o amor é cego, meu bem / abre a porta e vai entrando que eu entro também"
"Uh, uh, uh, que beleza!"
É dos feios que elas gostam mais / o feio não vacila, o feio corre atrás / e corre na frente, é valente, chega junto / um feio inteligente nunca fica sem a**unto / já o bonito é diferente / confia na beleza e fica meio… diz, displicente / e nesse meio tempo em que o bonito só pensou no visual / o feio se arrumou e ganhou na moral / na real, o bonito se dá mal geral / quando é festa, churrasco, pagode ou carnaval / porque sempre que a mulher acompanhada perde a linha / só olha pro bonito / "Nossa, que gracinha!" / mas aí o maridão, que já tá cheio de cana / junta logo os outros cornos pra juntar o bacana / e se tiver tiro, o bonito é que morre / o corno corre, a mina chora e adivinha quem socorre? / acertou em cheio quem achou que é o feio / que executa a mulher do alheio sem tiroteio / e se a própria mulher depois resolve contar / o próprio marido se recusa a acreditar: / "Quem?! Aquele cara ali? Ah, fala sério! Se é com ele pode ir."
Eu sou feio mas eu faço bonito
E as mulhé dão grito, e as mulhé dão grito!
Eu sou feio mas a sorte me escolhe
E as mulhé dão mole, e as mulhé dão mole!