[Verso 1]
Pelo amor de Deus alguém me ajude
Eu já paguei o meu plano de saúde
Mas agora ninguém quer me aceitar
E eu tô com dô, dotô, num sei no que vai dá
Emergência, eu tô pa**ando mal
Vô morrer aqui na porta do hospital
Era mais fácil eu ter ido direto pro Instituto Médico Legal
Porque isso aqui tá deprimente, doutor
Essa fila tá um caso sério
Já tem doente desistindo de ser atendido
E pedindo carona pro cemitério
E aí, doutor? Vê se dá um jeito
Se é pra nós morrê, nós qué morrê direito
Me arranja aí um leito que eu num peço mais nada
Mas eu num sou cachorro pra morrer na calçada
Eu tô cansado de bancar o otário
Eu exijo pelo menos um veterinário
[Refrão]
Me cansei de lero lero
Dá licença, mas eu vou sair do sério
Quero mais saúde
Me cansei de escutar
[Verso 2]
(Doutor, por favor, olha o meu neném
Olha doutor, ele num tá pa**ando bem
Fala, doutor! O que é que ele tem?)
A consulta custa cem
(Ai, meu Deus, eu tô sem dinheiro)
Eu também! Eu estudei a vida inteira pra ser doutor
Mas ganho menos que um camelô
Na minha mesa é só arroz e feijão
Só vejo carne na mesa de operação
Então eu fico 24 horas de plantão pra aumentar o ganha pão
Uma vez, depois de um mês sem dormir, fui fazer uma cirurgia
E só depois que eu enfiei o bisturi
Eu percebi que eu esqueci da anestesia
O paciente tinha pedra nos rins
E agora tá em coma profundo
A família botou a culpa em mim
E eu fiquei com aquela cara de bunda
Mas esse caso não vai dar em nada
Porque a arma do crime nunca foi encontrada
O bisturi eu escondi muito bem
Esqueci na barriga de alguém
[Refrão]
Me cansei de lero lero
Dá licença, mas eu vou sair do sério
Quero mais saúde
Me cansei de escutar
[Verso 3]
Socorro! Enfermeira! Urgente!
Tem uma grávida parindo aqui na frente!
Ninguém me deu ouvidos
E eu dei um nó no umbigo do recém-nacido
Mas o berçário tá cheio então eu fico com o bebê no meu colo aqui no meio da rua
E lá dentro o doutor tá botando o paciente no colo:
- "Por favor, fique nua!"
(Quê isso doutor?! Tem certeza?)
- "Confie em mim. É terapia chinesa. Tira a roupa!"
(Mas é só dor de dente)
- "Então abre a boca! (Ahhh) Beleza!"
(Ai, doutor, tá doendo!)
- "É isso mesmo, o que arde cura"
(Não! Pára! Não! Pára doutor! Não pára, doutor! Ai... Que loucura!)
- "Pronto, pa**ou, tudo bem. Volta na semana que vem!"
Ela vai voltar pra procurar o doutor
Essa vai voltar, pode escrever
Mas só daqui a nove meses, com um filho da consulta na barriga querendo nascer
[Refrão]
Me cansei de lero lero
Dá licença, mas eu vou sair do sério
Quero mais saúde
Me cansei de escutar
[Verso 4]
Que calamidade
Dos bebês que nascem virados pra lua e conseguem um lugar na maternidade
A infecção hospitalar mata mais da metade
E os que sobrevivem e não são sequestrados
Devem ser tratados com todo o cuidado
Porque se os pais não tem dinheiro pra pagar hospital
Uma simples diarreia pode ser fatal
- "Come tudo, meu filho, pra ficar bem forte"
(Ah, mãe! Num aguento mais farinha!)
- "Mas o quê que tu quer? Se eu num tenho nem talher?"
(Pô, faz um prato diferente, mainha!)
- "Eu ia fazer a tal da autópsia, mas eu não tenho faca de cozinha!"
Tá muito sinistro! Alô, prefeito, governador, presidente, ministro, traficante, Jesus Cristo, sei lá
Alguma autoridade tem que se manifestar
Assim num dá, onde é que eu vou parar
Numa clínica pra idosos, ou debaixo do chão
E se eu ficar doente, quem vem me buscar:
A ambulância ou o rabecão?
Eu tô sem segurança, sem transporte, sem trabalho, sem lazer
Eu num tenho educação, mas saúde eu quero ter
Já paguei minha promessa, não sei o que fazer
Já paguei os meus impostos, não sei pra quê
Eles sempre dão a mesma desculpa esfarrapada
"A saúde pública está sem verba"
E eu num tenho condições de correr pra privada
Eu já tô na merda
[Refrão]
Me cansei de lero lero
Dá licença, mas eu vou sair do sério
Quero mais saúde
Me cansei de escutar