I
Tristemente embarcados
com rumo sem rota
velejando no ar
com grande medo levados
em formosa frota
de casco a abanar
rebentam as ondas gigantes
coisas alucinantes
quebra-mar quebra-mar
uma prece na garganta
Nossa Senhora Santa
almiranta
a vomitar a vomitar
procurando novos mercados
em nome de Deus
vai el-rei engordar
como por nossos pecados
desatinados às cegas
no escuro do mar
salta um mostrengo barbudo
c'o peito peludo
a arrotar a arrotar
nós senhores do barlavento
ao leme gemendo
tremendo
ai! quem soubera nadar
E com a pressa que podíamos
nós fizemos de volta
esquecendo mercês
se à vista daquilo que víamos
nos tremiam as carnes
nos dava a gaguez
ao serviço de Deus Nosso Senhor
regressa a**im teu esposo
neste vento bonançoso
meu lindo e ditoso amor
confiado nesta promessa
enganado nesta esperança
II
Mas o avarento agiota
depressa nos manda
de novo embarcar
banqueteados com muitos açoites
ao longo da costa
quem se há-de salvar
tragam pimenta
a fazenda
a prata sangrenta
a rezar a rezar
metam o turco a tormento
fede a Mafamede
que fale
onde fica o bazar
e a**im fomos de atropelo
sobre gente que não tinha
em boa conta
o nosso apogeu
nos merecia a latina cólera
por zelo
da honra de Deus
vivos lançados ao mar
com um grande penedo
ao pescoço
a afundar
ouvem-se as gritas
apupos
dos turcos malucos
eunucos
a atacar a atacar
E foram tantas as pedras
os zargunchos as lanças
e as chuças
de arremesso sobre nós
que fugíamos a**az
com a pressa que podíamos
depois de tanto pelejar
ao serviçp de El-Rei
nosso Senhor
regressa a**im teu esposo
neste vento bonançoso
meu lindo e ditoso amor
confiado nesta promessa
enganado nesta esperança
III
Foi-se o tempo pa**ando
da nau ao paquete
lá vai Portugal
leva gente do arado
peões e joguetes
em calção colonial
negro trabalha can*lha
que a tua mortalha
é este ultramar
colhe matumbo o café
que a gente tem fé
chimpanzé
de lucrar e lucrar
fomos misturando guitarras
ao som do batuque
bebendo maruvo
e num sentimento bizarro
casando com a negra
depois de viúvo
estoira uma força gigante
vermelha negra vibrante
a lutar a queimar
liberta um povo oprimido
e perde o diamante
purgante
quem nos andou a mandar
e desmanchámos as casas
tornámos de volta
pobres numa muleta
balbuciando estranhas palavras
aka! que maka!!
acabou-se a teta ao serviço de grandes senhores
regressa de vez teu esposo
neste vento bonançoso
meu lindo e ditoso amor
confiado nesta promessa
enganado nesta esperança