[Verso 1]
Garganta rasgada me espanta, grito de raiva
No canto eu disperso os demônios, igual fumaça
Liberto, já fico mais perto do meu paraíso
No certo, só vivo de espera, sem nenhum sorriso
Realidade é faca, carne do pescoço sangra
Sufoco em meio a nuvem de poeira que levanta
Marginalizado pelo próprio pensamento
Jogo nas palavras, ideias que vão no vento
Perco tempo, faço graça, choro pra dentro
Cambaleando entre a euforia e o sofrimento
Embriagado de sonho, perdido pelo caminho
Terapia de espelho, num quarto sozinho
Escorrem melodias sem fins comerciais
Um desabafo em notas da visão sobre fatos banais
Desregulado e trêmulo, o suor gelado
Mente nervosa, acelerada, coração disparado
O ar me suga a energia, é rarefeito
Batida do grave esfacelando o peito
Os dedos sem direção, com vida própria
A voz da consciência negativa fazendo chacota
Relógio é nada, tempo não é mais medida
Entre um segundo e o próximo, a eternidade perdida
E no furacão de pulsos, na veia saltada
Se vão as horas da madrugada
[Verso 2]
Invoco personagens de um enredo clichê
As falas batidas nos corredores sem porquê
O eco, o estouro do P, na tela armada
O pedaço de meia na madeira improvisada
Eu traço a peça, subo ao palco, me ilumino
A alegria pura, surpreendida, de menino
O pé descalço toca o chão frio
Explodo a voz nervosa, na espinha corre o arrepio
Sinto a alma me escapando, desespero
O melhor desejo, o pior espero
Fico quieto, ouço o vento pela janela
Desfilo em acordes, faço do som pa**arela
Sem plano de vôo, decolo, avisto a Terra
Ao longe noto o corpo sentado, em pose de guerra
Processo violento que inspira a continuidade
O sangue e o tiroteio entre o ego e a vaidade
Retorno mais leve, sensação de cumprimento
Da minha que é dada, e me leva pro isolamento
Agora respiro, ciente, olho pra trás
Pronto pra mais uma procura do que me satisfaz
Termina a contagem nessa solitária fria
Risco na parede marca o sonho da alforria
Vejo a luz do sol me despertando do incerto
Abro a cela, saio da prisão, liberto