Mais de 500 anos
Parece uma eternidade
Tudo destruído
E agora seus herdeiros querem mais
Cegos
Cegos de ganância
Cegos e sedentos
Por mais, e mais, e mais
Mais 500 anos
Querem mais
Já não é o bastante esse genocídio?
Cotidiano, impiedoso
Essa limpeza nas ruas, nos guetos?
Eugenia
Pra dizimar o que sobrou dos que foram escravizados
Aparelhados
Por um estado cruel, opressor
Que reproduz seus desejos, suas vontades
E pra eles ainda não tá bom
Malditos nós, que queremos viver
Que queremos dignidade, respeito
Malditos nós, tentando romper as correntes
Trabalhadores chutando a porta da senzala
Derrubando o poste, correndo pro mato
Não pode
Dá tiro
Taca bomba
Se reclamar, tortura
Se chorar, mata
Se correr a polícia atira
Se ficar a polícia toma
Mas querem mais
Mais 500 anos
Mais 500 mil
Mais 500 tantos
Querem tudo, o infinito
Que pra eles ainda não vai bastar
Privilégios
Em cima da carne
Em cima do sangue
Querem consumir
Querem explorar
Querem rir e dizer que o problema somos nós
Pobres sem dente, socados, suados
Espremidos e falidos sem horizonte pra buscar
Lá vem eles de novo
Caminhando pelas ruas
Marchando por nada
Marchando por ódio
Será que eles não entendem?
O que será que eles querem?
Acho que querem
Mais 500