Vasco Graça Moura / Pedro Moreira
aqui me tens agora toda nua
deitada junto a ti como se fosse
branco areal onde se espraia a lua
e o marulhar das vagas é mais doce
sou estrela-do-mar e sou molusco
sou mucosa e cetim de lés a lés,
sou de dor e prazer e sou um brusco
redemoinho de algas e marés,
sou a ninfa que vai desgovernada
feita de espuma a entrar no temporal,
sou vulcão, carne viva, uivo e golfada
de amor e de agonia em espiral,
sou garras, dentes, língua, turbilhão
da lava de carícias nas veredas
de me enroscar em ti e ao fim, então,
sou um longo soluço em labaredas.