(by Carlos Tê & Hélder Gonçalves)
É difícil ser bom monge
Num mundo de encher a vista
Como é difícil fazer surf
Num mar de ondas sem crista
E quando se cai muitas vezes
O mal está no surfista
Mal daquele que cai muito
Não é visto só avista
E já Arquimedes dizia
Se não houver nada por baixo
Só lhe resta o estilista
Aí o monge anda aos papeis
Em busca do hábito certo
Mas a beleza tem rígidas leis
Oitenta e seis
Sessenta oitenta e seis
Vê o grego no pedestal
Está o segredo na pedra
Ou no cinzel do criador
Está no hábito ou no monge
No papel ou no actor
Há tanta gente infeliz
A vestir no sitio certo
Que por mais tons e feitios
Hão-de ser sempre imperfeitos
E há os da Feira da Ladra
Que parecem ser os eleitos
Aí o monge anda aos papéis
Em busca do hábito certo
Mas a beleza tem leis
Oitenta e seis
Sessenta oitenta e seis