Não, meu coração não é maior que o mundo É muito menor Nele não cabem nem as minhas dores Por isso gosto tanto de me contar Por isso me dispo Por isso me grito Por isso frequento os jornais Me exponho cruamente nas livrarias Preciso de todos Sim, meu coração é muito pequeno Só agora vejo que nele não cabem os homens Os homens estão cá fora, estão na rua A rua é enorme Maior, muito maior do que eu esperava Mas também a rua não cabe todos os homens A rua é menor que o mundo O mundo é grande Tu sabes como é grande o mundo Conheces os navios que levam petróleo e livros, carne e algodão Viste as diferentes cores dos homens As diferentes dores dos homens, Sabes como é difícil sofrer tudo isso, amontoar tudo isso Num só peito de homem sem que ele estale Fecha os olhos e esquece Escuta a água nos vidros Tão calma, não anuncia nada Entretanto escorre nas mãos tão calma
Vai inundando tudo Renascerão as cidades submersas? Os homens submersos voltarão? Meu coração não sabe Estúpido, ridículo e frágil é meu coração Só agora descubro como é triste ignorar certas coisas Na solidão de indivíduo Desaprendi a linguagem com que homens se comunicam Outrora escutei os anjos As sonatas, os poemas, as confissões patéticas Nunca escutei voz de gente Em verdade sou muito pobre Outrora viajei países imaginários Fáceis de habitar Ilhas sem problemas Não obstante exaustivas E convocando ao suicídio Meus amigos foram às ilhas Ilhas perdem o homem Entretanto alguns se salvaram E trouxeram a notícia de que o mundo O grande mundo está crescendo todos os dias Entre o fogo e o amor Então, meu coração também pode crescer Entre o amor e o fogo Entre a vida e o fogo Meu coração cresce dez metros e explode Ó, vida futura, nós te criaremos