Esse disco foi feito em sete dias por oito pessoas apresentadas em ordem alfabética: Bruno Schulz, Cairê Rego, Felipe Pacheco, Gabriel Barbosa, Gabriel Ventura, Hugo Noguchi, Larissa Conforto e Vitor Brauer. Projeto Xóõ só foi possível por um milagroso espaço na agenda dos músicos mais talentosos do Rio de Janeiro, a disponibilidade de seu novo estúdio e equipamentos, e pela sorte de um rapaz mineiro. Eu sou um homem muito sortudo Esse disco fala sobre muitas coisas, mas o que eu acho que ele mais fala é sobre amizade. E é sobre isso que vou conversar aqui, nesses créditos, eu acho... Sobre sorte e amizade, na verdade. Pra começar, eu conheci Cairê e Hugo por volta da primeira vez que eu vim para o Rio de Janeiro; isso tem menos de um ano. Sempre foi o meu sonho ver Copacabana e Ipanema, ver essas montanhas com seus amontoados de casas, pa**ar por seus túneis e ver as pessoas fazendo cooper de sunga numa terça-feira. Demorou por volta de cinco anos pra conseguir uma data pra minha banda tocar aqui no Rio, graças a uma amiga chamada Thai. De qualquer forma, não tentávamos muito para não nos frustrarmos muito fácil... Eu não queria abusar da minha sorte. Após conhecê-los e conhecer as suas bandas, fiquei muito surpreso de eles gostarem da minha música e do que eu faço. Tenho milhões de amigos, muito menos talentosos, inteligentes e gentis que eles, e muitos sequer gostam ou ouvem o que eu faço – deve ser questão de gosto. Sempre pensei que as pessoas menos brilhantes e de pior coração seriam as que mais me ouviriam, sem falsa modéstia. Não achei que gênios fossem gostar do que eu faço. A vida é um troço estranho Mais surpreso ainda fiquei quando o guitarrista da banda do Cairê, o Felipe, me adicionou no Facebook e eu vi que ele tinha postado a minha música “Homem” em sua linha de tempo – alguma coisa estranha estava acontecendo. Pa**ados alguns meses, toquei com a banda do Hugo, na segunda vez que vim ao Rio, e virei amigo muito próximo do Gabriel, o Ventura, e da Larissa. Por algum motivo essas pessoas me tratavam muito bem, riam de minhas piadas e ofereciam suas casas e seus corações. E ainda por cima gostavam do que eu fazia Quando a banda do Cairê e do Felipe foi tocar em BH, eu fui encontrá-los esperando uma reação um pouco fria e distante. Não éramos amigos e eles não tinham a menor obrigação de ficar me dando atenção: eles eram as estrelas. Mas, por algum motivo, eles ficaram perto de mim, me tratando sempre muito bem, se divertindo ao meu lado por todo o tempo, antes e depois do show. De certa forma, foi como quando eu tinha dezesseis anos e havia descoberto que uma menina, das mais lindas que eu já tinha visto na minha vida, queria ficar comigo. Eu sou um homem muito sortudo... Mas, da mesma forma que aconteceu com a menina, eu acabei ficando meio pé atrás com essas coisas
Eu penso, na minha cabeça, em como Deus me deu todos esses dons e oportunidades e em como eu não fiz nada de bom com eles, nada de muito valor, pelo menos. Deus só está esperando a oportunidade certa pra me ferrar de vez e dizer: “Toma, Vitor! Eu te dei tudo isso e você desperdiçou tudo, então toma essa pra você aprender!” – eu divaguei, eu sei. De qualquer forma, espero que vocês tenham entendido até aqui e entendam agora o quanto eu fiquei surpreso quando eu fui convidado pra gravar um CD com eles, aqui no Rio de Janeiro. E ainda por cima meus grandes amigos Hugo Ventura e Larissa também iriam participar! Quando, mais tarde, conheci Barbosa e Bruninho, já havia os adorado sem nunca os ter visto antes Sei que isso tudo parece bobo à primeira vista e talvez seja bobo no final das contas. Pode parecer que eu estou enchendo linguiça pra ter mais uma música no disco. Vejam bem, a minha arte e a minha vida sempre foram vistas e separadas em dois extremos: tem gente que me ama e tem gente que me odeia. Eu não sou uma pessoa que não fede e não cheira, o que tem suas vantagens e desvantagens, é claro. Os meus discos, dois extremos também: de um lado está minha banda de rock, que possui pouco público e é louvada pela crítica; do outro, está minha carreira solo, que nenhum crítico ouve e que possui menos público ainda. Na minha carreira solo eu faço músicas como essa. Existe um motivo pra todas essas músicas que eu fico falando existirem: eu acho que eu tenho que escrever a minha história na minha arte de alguma forma, e essa é a forma mais original e mais minha que eu achei pra fazer isso. Mas ficar se justificando é pior, eu sei. Eu sou muito sortudo de ter gente que gosta disso. Eu não vou me cansar de afirmar isso pra mim mesmo, e agora pra vocês. Minhas letras são a janela da minha alma, a porta do meu espírito. Eu me sinto muito sortudo de ter gente que me ama pelo jeito que eu sou. Eu me sinto muito sortudo de ter gente que me ouve e que me respeita pelas coisas que eu produzo e pelas coisas que eu falo. E, no final de tudo, eu me sinto muito, muito sortudo por ter esses amigos que eu tenho... E por ter feito esse disco. Mesmo que eu morra amanhã esse disco estará aqui. Eu sou muito sortudo de ser feliz e de ser mais amado do que odiado nesse mundo. Um brinde aos meus amigos. Gostaria de agradecer a todos vocês que ficaram com a gente até aqui, também. Obrigado