Vou contar, que eu conheço
E você nem acredita:
Uma cidade esquisita
Onde tudo é pelo avesso
Se quiser dou o endereço
Para visitá-la um dia
Gente lá não te valia
Como bicho é tratada
Lá homem não é nada
Só quem manda é a bicharia
Avoa, meu caboré
Peneira, meu gavião
Palmatória quebra dedo
Palmatória faz vergão
Quebra tudo, quebra pedra
Só não quebra opinião
Vi mosca de camisola
Vi cavalo num debate
Vi uma traça alfaiate
Guaxinim tocar viola
Um siri jogando bola
Vi um píca-pau ferreiro
Um veado arruaceiro
Vi um mosquito tossindo
Vi uma gata parindo
E o cachorro era o parteiro
Vi um peixe de chocalho
Uma perua discreta
Jabuti que era atleta
Mais veloz que um atalho
Calango jogar baralho
Formiga tapando furo
A lagartixa no muro
Dando uma de alpinista
E um preá capitalista
Emprestar dinheiro a juro
Avoa, meu caboré
Peneira, meu gavião
Palmatória quebra dedo
Palmatória faz vergão
Quebra tudo, quebra pedra
Só não quebra opinião
Vi um jumento escrevendo
Vi preguiça trabalhando
Vi a besta reclamando
Eu vi um morcego lendo
Caranguejeira tecendo
Porca em água-de-cheiro
Vi um cururu faceiro
Coruja no oculista
Vi tatu ser maquinista
No metrô lá de pinheiros
Vi a pulga se coçando
Avestruz tirar encosto
Vi barata ter bom gosto
Um bode se barbeando
Um gambá se perfumando
Siriema ser modelo
Vi minhoca de cabelo
Vi cobra de suspensório
Macaco no escritório
Organizar desmantelo
Avoa, meu caboré
Peneira, meu gavião
Palmatória quebra dedo
Palmatória faz vergão
Quebra tudo, quebra pedra
Só não quebra opinião
Vi onça vegetariana
Piolho coçar cabeça
Vi um burro prestar queixa
Leão comando banana
Vi a zebra de pijama
Eu vi um peba engenheiro
Guariba tocar pandeiro
Tanajura usando tanga
Vi o cão chupando manga
Batendo bombo em terreiro