Serei, serei a sereia A do pescoço doirado Que no fio da sua voz Te arrastava para o largo? Serei, serei a donzela Que em teu desejo aparecia Sempre que à noite acordavas Contra uma cama vazia? Ai, ai, marujo, mareante Porque te foste encerrar Num barco à prova de encanto Num barco à prova de mar? Já das rotas me apagaste E já o teu olhar não vê Minha garganta nas rendas Que me vestia a maré Quem me tivera avisado Que o amor de um marinheiro É como os vícios do mar É como o mar traiçoeiro Que me deixavas trocada Por mulheres que a terra dá Mulheres de pernas cobertas Por balões de tafetá Ai tem, cautela, marinheiro Que o mar é coisa ruim E o amor de uma sereia Não vai acabar-se a**im Que hás-de vir de novo à rede De um amor que engana e mata Que, à vista deste, outro amor É cinza à vista da prata Ai quem me dera que em vez De filha do mar, me acha**e Rapariguinha solteira Que nesse mar se afoga**e Ai quem me dera que em vez De cantadeira do mar Fosse eu mulher de viela Para ainda me ouvires cantar