[Verse 1: Álvaro Mamute] Eu tenho ídolos que nunca me deram a mínima atenção Talvez por isso sinta culpa de ser admirado desse jeito Minha preguiça mata minha dedicação E é esse conflito que aperta cada coronária no meu peito Não sei exatamente porque eu comecei a fazer rap Mas hoje não consigo me imaginar sem rimar em um boom bap Não sei porque minto, desengano, e rio Mas sei que sem isso eu estaria com certeza por um fio Uma vida de altos e baixos, autos e fatos, falsos hiatos Em que cada desacato fez do meu mundo um lugar mais pacato Mais pra gato escaldado que pra cabaço, com certeza Mas ainda tem quem se sinta mais inteligente que eu na mesa Tudo bem, minha vaidade nunca foi sobre achismos Tudo bem, a viadagem é só fruto do machismo Tudo bem, essa viagem é guiada ao taoismo Tudo bem, cada mensagem é filha de todo meu cinismo E eu só sei que nada sei, seu Sócrates me dá dó E eu só sei que foi a**im, como João Grilo e Chicó E nesse Auto da Compadecida, peço perdão de verdade Será que Deus finge piedade tanto quanto eu finjo humildade? Minha Nossa Senhora, a vaca da primeira carteira não vai rir Eu que sentava na primeira carteira, e aí É por isso que todo mundo escuta as merdas que eu falo Eles pensam que diploma te deixa muito mais longe do ralo Novidade, eu não tenho direito a cela especial Na minha concepção, nessa merda, é todo mundo igual Todo mundo nasce, morre, entra na merda dum caixão E pa**a a eternidade enterrado debaixo de 7 palmos de chão Salvem-se os tolos, os amantes, os que cuidam dos pobres Os que pensam em todos, esses sim são os nobres Eu só penso em mim, e por isso sei qual é meu destino Eu sou peso e ruim, e por isso não chorei desatino Mas se existem santos que venderam sua alma ao diabo Me fodi, porque na minha ele não quis pagar um centavo Nunca fui muito de acreditar em superstição Mas meu signo é incrédulo, hein, não julgue não Eu entendo quem se apega a horóscopos e mapas astrais As estrelas são mais reais que todos os demais Humanos ou animais, são seres carnais E botariam qualquer um de seus interesses à frente da paz Eu sei, confie em mim, já fiz isso algumas vezes Ou talvez não confie tanto em quem não trabalha há meses Ah, fazer música? Isso não é trabalho, isso pa**a Até curto ser pago pra fazer o que faria de graça Não vou pro céu, nunca me dei bem com a perfeição Não vou pro inferno, nunca me dei bem com a rejeição Não vou pra casa, nunca me dei bem com afeição Eu? Sou problema, nunca me dei bem com solução Ser feliz é um país muito longe de mim E eu, sem pa**aporte, busco pra mim outro fim Fim de papo, das contas, da conversa fiada Fim do mundo pra quem tem a premissa quebrada Quem nasceu pobre, sem ter o que comer, é coitado, sim E se você perdeu a empatia, está aí mais um fim O fim da linha pra quem há tanto tempo a perdeu O fim da música se você chegou aqui como eu E acreditava que eu tinha todas as respostas Volte para casa com mais algumas perguntas repostas Me desculpe, eu sei que errei tantas vezes, em tantos lances Nossa Senhora, o que eu te peço é: me dê mais uma chance